Erros de Continuidade
por Dú, Dudu e Edu
Capítulo I – São Paulo e o Velho Centro
“E não adianta nem me procurar em outros discos, outros livros...”
Tocava a canção sem origem e tampouco destino, ainda que capturada por ouvintes nada seletivos, ouvidos da gente que se movia de cima a baixo na velhas ruas do Velho Centro. Há pouco por uma das travessas da Rua Rodrigo da Silva, havia avistado a lateral da nave da Igreja da Sé – que não é velha – com seus pontiagudos detalhes arquitetônicos apontando para o alto, para o céu como se seus pináculos de poliestireno pudessem elevá-la à santidade que não é encontrada em seu interior.
Tomou seus ouvidos a canção – que é nova – quando diante do portal de entrada do número 176 da Praça da Sé hesitou, ponderou, considerou as chances de ter confundido 116 com 176, afinal a semelhança é confundível e motivo para confusão, tal qual a simetria. Dois certos contra um possível engano, entrou portal adentro, de imediato sentido a falta da morna luminosidade de nossa estrela mais próxima – essa sim, antiquíssima – tão logo as pupilas dilataram percebeu a madeira escura e velha, de um castanho denso, pesado que servia de batente para o portal na sua metade interior e um balcão da mesma madeira, densa e escura, estranhamente quadrado cujas pequenas muradas que o sustentavam davam a impressão de ter bem meio metro de largura, contra todas as probabilidades.
O chão recoberto de pisos em forma de losangos de um escuro que não era preto e de um claro que já não era branco, formando um xadrez sem peças, mas é claro que o losango se tornaria um quadrado se o visitante girasse nos calcanhares e caminhasse às escadas estreitas à esquerda após o balcão tudo parecia muito antigo escurecido com a própria matiz do tempo. As paredes de tinta esmalte amarela pareciam ter recebido camadas ao longo das décadas, quem as olha – não quem as vê -, que as olha pode ver as camadas umas sobre as outras, e pode até ousar imaginar se há tijolos e concreto sob a tinta ou se ela penetrou pelos poros da parede e a incorporou.
E pensou: “Quem mais ousaria pensar nisso além de alguém que vive...”
-Ei! O que faz aqui!?
Um porteiro. Um porteiro, não havia notado, ainda que, na verdade, não houvesse nada naquele saguão, não havia notado aquele porteiro. Ele era alguém que posteriormente o visitante descreveria como comum, um denominador comum de todos os porteiros comuns. Parecia estar com um pé e um dedão na casa dos quarenta, meio grisalho, mas não demais; meio magro, mas não demais; com a barba meio por fazer; meio alto, meio baixo; com aquela camisa que parecia ser a mesma de todos os porteiros, um tom azul-sem-nome-nem-cor.
O tipo de pessoa de quem você se esquece antes que tenha algo para se lembrar.
E o denominador falou:
- O que você quer aqui garoto?
-Procuro um sebo no primeiro andar de um prédio, me disseram que tem um prédio no segundo andar desse prédio. Disse o visitante com firme certeza.
-Tem um prédio no segundo andar desse prédio. Pegue o elevador. Suba. – E o denominador se calou.
O garoto virou-se e já ia seguir mais para dentro do salão.
“Sabe aqueles momentos em que o mundo para e os sentidos se aguçam infinitamente? E o relógio volta milésimos de segundos para trás? E você se sente consciente de tudo? Omnisciente. Pode sentir seu sangue fluir, seu pulmão ventilar, os ossos sentem a pressão da cartilagem e tendões; os pelos em seus corpo sentem o ar palpavelmente entre eles?”
O garoto parou, girou lentamente a cabeça imaginando o que havia de errado naquela cena, sentindo que algo muito errado, perigosamente errado, alarmantemente errado. Mas não sabia o quê. E o denominador comum falou:
- Tem um sebo no primeiro andar. Pegue o elevador. Suba.
A sensação desapareceu, quase, quase desapareceu, um pequeno tilintar reluzente, minimamente sobreviveu. E se escondeu num vão entre memórias vizinhas.
--- Continua amanhã ---
PARABÉNS...
ResponderExcluirGostei muito desse texto, espero pelo capítulo seguinte amanhã...
Que tal continuar AGORA? rsrs
ResponderExcluirxx
AHHHHH EU JA TINHA LIDOOOO!!!!!
ResponderExcluirSORTE SER O NAMORADO DO ESCRITORRRRR!!! HUAHUAHUA
BJO AMOR TA FICANDO OTIMO CADA VEZ QUE LEIO FICA MAIS LEGAL VC E QUASE UM REALISTA ,SEM A CHATISSE DELES HUAUHAHUAHU!!! BJO TE AMOOOO
LINDINHO!!!
RAMON.