quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Capítulo II – O elevador e as horas

Capítulo II – O elevador e as horas

Erros de Continuidade

por Du, Dudu e Edu

O garoto parou diante da porta do elevador buscando veracidade nas palavras do denominador, mas suas tentativas resvalavam no denso verniz do batente que ele já havia notado anteriormente. Aquilo era uma porta, não uma porta de um elevador, mas uma simples porta que se atravessa para chegar ao outro lado – ou se fecha para que o que está do outro lado não chegue do lado de cá. Era estreita, e de madeira. Portas de elevador não são feitas de madeira, muito menos madeira tão antiga e tão escura, e tão densa; e muito menos, tão estreitas.


Olhou para direita e viu um único botão, ao contrário do que esperaria, e do que diria sua experiência sobre botões de elevadores, este não tinha setas para o alto ou para baixo e eram da cor do próprio tempo, suas setas apontam para a direita e para a esquerda – aquilo não parecia certo, de modo algum – era um engano sobre um espelho de madeira que formava um jogo com a porta de madeira.


E seu dedo pousou sobre o botão. O som de um velho maquinário rangendo – curiosamente muito mais fraco em intensidade do que esperaria – como todas as máquinas que funcionaram além do tempo de sua aposentadoria; um leve solavanco e a porta se abre. Ele caminha para dentro ao encontro de paredes também de madeira – a mesma madeira do hall, escura e envernizada – ao girar sobre os calcanhares se depara com a forma circular de um ascensorista.


O ascensorista, sob todos os aspectos que os sentidos do garoto podiam apreender, era o mesmo denominador comum! No entanto, a imagem que sua mente processava é “ligeiramente” maior e menos aprazível. O cabelo é pixaim, brancos como sorvete de nata, suas olheiras são fundas e roxas com todas as marcas dos anos que se abateram e se acomodaram sobre ela, seus olhos estão atrás de pálpebras bem cerradas que mal se davam ao trabalho de se afastar, a superior da inferior, o bastante para que o mínimo de luz atravessasse sua fronteira. Isto por quê as pálpebras são nossas maiores defesas, afinal quando um grande perigo acomete qualquer ser dotado de pálpebras, ele se defende da própria realidade fechando os olhos. Do mesmo azul era sua camisa, e cerrados permaneciam seus olhos, sem revelar cor ou intenção.


“Senhor, por favor, o primeiro andar”, pois guardava grande respeito pelos mais velhos. O ancião com todo seu esférico peso moveu seu braço pesadamente, era fácil notar a recusa de cada músculo, tendão e ligamento no braço que se movia em direção a uma manivela de latão, aquele belo metal de brilho dourado – e pouco valor – que nunca enferruja e parece não sofrer a ação do tempo. Ela reluzia, e era tudo o quê reluzia por ali, tinha a forma de uma volúpia que ao centro se conectava ao elevador, e que na ponta externa de sua espiral se sustentava uma maçaneta que o ascensorista girou, e o mesmo som que havia ouvido anteriormente se fez ouvir, e ele percebeu que era o som que a volúpia fazia ao espiralar e cerrar a porta.


Ao alto da porta havia um marcador também de latão, parecia a metade de cima de um relógio, como os relógios cuco. Com seus dois ponteiros ornamentados por linhas de metal vazado que se conectavam formando setas; a maior que corresponde ao ponteiro dos minutos ia até o número trinta e a menor ia do número um ao número seis com cada um de seus números correspondente ao equivalente a si mesmo vezes cinco.Tão logo chegou ao fim dessas considerações, a porta se abriu e nada disse o esférico ascensorista.


Ao olhar para o alto, o ponteiro dos minutos marcava um, e o das horas dois. Não ousou questionar e saiu, novamente ouviu o som da volúpia.

Um comentário:

  1. Muito bom... xD
    Gosto do jeito que descreve os detalhes...
    Continue assim...
    Aguardo os próximos textos.

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